terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

PRÓTESES MAMÁRIAS NA MIRA DA UNIÃO EUROPEIA

Implante mamário PIP danificado (Globalpost)
Já chegaram os relatórios pedidos pela Comissão Europeia para analisar o material dos implantes mamários existentes no mercado. Os resultados referentes aos produtos da controversa marca Poly Implant Prothese (PIP) revelaram-se inconclusivos e, por isso, o executivo da União Europeia (UE) vai agora aprofundar os estudos, lançando ainda a hipótese da introdução de microchips nos implantes, à semelhança do que acontece já nos Estados Unidos.

“As evidências foram insuficientes para concluir que as mulheres com implantes mamários de silicone PIP sofrem um maior risco do que as que usam produtos de outras marcas,” escreveram os investigadores do Comité Científico dos Riscos para a Saúde Emergentes e Recentemente Identificados no documento entregue aos técnicos da Comissão Europeia.

“Esta opinião agora publicada resume o atual conhecimento científico sobre a questão. Vamos neste momento discutir com os Estados Membros uma série de medidas imediatas para fortalecer a supervisão existente e os controlos de segurança de todos os produtos que já existem no mercado,” explicou o Comissário da Saúde e do Consumo John Dalli, que acrescentou que na primavera será adotada uma revisão da Diretiva dos Dispositivos Médicos que incluirá um reforço da monitorização, vigilância e funcionamento dos órgãos de controlo. “Uma das opções que está a ser explorada é a introdução do chamado DUI, Dispositivo Único Identificador, que poderá ser um microchip,” revelou mais tarde o porta-voz Frederic Vincent.

O ESCÂNDALO DAS MAMINHAS DE SILICONE

A polémica foi lançada no final do ano passado, quando o governo de França sugeriu a cerca de 30.000 mulheres a remoção dos implantes mamários da marca PIP, sem qualquer custo. As autoridades francesas tinham descoberto indícios de fraude na fabricação do material, estando a ser usado silicone industrial, que poderia libertar toxinas que, em último caso, conduziriam ao desenvolvimento de células cancerígenas.

Logo de seguida, quatro outros Estados Membros tomaram a mesma decisão: a Alemanha, a República Checa, a Holanda e a Bélgica. Outros países como a Espanha e o Reino Unido recomendaram a retirada dos implantes apenas nas mulheres que detetassem qualquer tipo de problema. Ainda assim, todas elas deveriam ser sujeitas a uma revisão.

A Comissão indica que, de acordo com as estatísticas disponíveis, no mundo inteiro, já foram vendidos cerca de 400.000 implantes PIP, incluindo 40.000 no Reino Unido, 30.000 em França, 10.000 em Espanha e 7.500 na Alemanha. No entanto, nem todos os países têm um registo nacional de quantos pacientes utilizam esta marca.

Jean-Claude Mas, fundador da PIP (DR)
TRIBUNAIS, CAUÇÕES, CULPAS E CONFISSÕES

Até ao momento, há registo de uma morte, ocorrida em França, provocada por complicações causadas por implantes mamários PIP.

Jean-Claude Mas, o fundador da empresa, que entretanto faliu, está atualmente a ser acusado por ofensas corporais involuntárias, encontrando-se em liberdade depois de ter pago uma caução de 100 mil euros. Está impedido de abandonar o território francês e de se reunir com os executivos da fábrica falida. O empresário admitiu saber que o gel utilizado nos implantes não estava homologado e mostrou-se consciente da opção por um produto mais barato.

O CASO PORTUGUÊS

Em Portugal, o Infarmed, a autoridade que regula o setor do medicamento, garante que continua “a seguir os casos reportados e os procedimentos adotados a nível nacional e internacional”.

Segundo as estimativas, há cerca de 2000 mulheres com próteses mamárias e desde 2004, já seis com produtos da marca PIP requisitaram a respetiva remoção, três delas já este ano.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) garante a retirada dos implantes com complicações de forma gratuita. No entanto, a sua substituição nos serviços de saúde públicos só aconteça em duas situações: quando colocados no SNS e sempre que a razão do implante seja a ablação da mama por doença. Ou seja, os tratamentos de cariz estético não são contemplados.

Marta Velho

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