Ashton ocupa o cargo de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (DR) |
Catherine
Ashton não prima pelo carisma. Figura mediana, cabelo curto castanho, olhos
pequenos, nariz alongado – a britânica torna-se quase invisível quando se
encontra junto de outros gigantes da Europa, como José Barroso, presidente da
Comissão Europeia, ou Angela Merkel, chanceler alemã.
É a
ela que cabe representar a União Europeia (UE) no exterior. Com a entrada em
vigor do Tratado de Lisboa em 2009 surgiu uma tentativa de reforço da
diplomacia europeia no mundo. Foi criado o cargo de Alto Representante da União
para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança de carácter permanente,
atribuído a Ashton.
O
nome é pomposo e a posição acarreta responsabilidade. A britânica é ainda
vice-presidente da Comissão Europeia, mas nem por isso é mais reconhecida pelo
público. Uma grande parte, senão mesmo a larga maioria, dos cidadãos europeus
desconhece o seu papel. E, mesmo na esfera política, quando o foi apontada para
o mais alto cargo diplomático da UE, muitos foram os que questionaram a sua
capacidade, devido à sua fraca notabilidade no mundo dos Negócios Estrangeiros.
Nos bastidores de Bruxelas, corria o rumor de que a posição lhe tinha sido
atribuída para compensar o Reino Unido por, na mesma altura, o posto de
presidente do Conselho Europeu ter calhado ao belga Herman Van Rompuy e não ao
britânico Tony Blair, como tudo parecia indicar.
DE
HUMILDE A BARONESA
No
entanto, o currículo de Catherine Ashton não desilude. É membro do Partido
Trabalhista britânico, fez parte do Conselho Privado da Rainha e assumiu cargos
de responsabilidade nos departamentos da Educação e dos Assuntos
Constitucionais. Conseguiu o título de Baronesa de Upholland através da Câmara
dos Lordes, da qual veio a ser líder, dirigindo inclusive a posição deste grupo
parlamentar nas negociações do Tratado de Lisboa. Esteve ainda à frente da
pasta do comércio na Comissão Europeia.
Contudo,
Catherine Ashton é oriunda de um meio humilde do norte de Inglaterra e
conseguiu traçar o seu caminho ascendente através da força da vontade. Foi a
primeira da família a obter um grau académico, de Sociologia, no Bedford
College em Londres, em 1977.
Hoje
em dia, é casada com Peter Kellner, presidente da organização YouGov. Tem dois
filhos e três enteados.
NA
SOMBRA DE TODOS OS OUTROS
Como
Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança, o trabalho de Catherine Ashton tem sido muitas vezes alvo de duras
críticas. É constantemente acusada de ser uma sombra dos outros líderes
europeus e ter uma posição pouco assertiva na representação da UE.
Em
declarações ao diário ABC, o analista de política internacional José María de
Areilza assinalava o constante fracasso da posição da Europa nas crises
mundiais. Dando o exemplo da Primavera Árabe, lembrou a “crescente ineficácia
da ação europeia, que assenta num poder de atração, ou soft power inútil,
perante os massacres na Líbia, ou a guerra civil na Síria.” Em relação a
Ashton, Areliza considera que a baronesa, atualmente, “bateu no fundo, algo que
parecia difícil. E isso aconteceu porque negociou um acordo nos termos do qual
a atuação das suas relações externas ficaria subordinada a autorizações
burocráticas de três comissários que lhe fazem concorrência aberta no seio do
executivo europeu.” De novo, Catherine Ashton a colocar-se atrás de todos os
outros na UE.
Marta Velho
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