sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A BARONESA DESCONHECIDA
Ashton ocupa o cargo de Alto Representante da União
para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (DR)
Catherine Ashton não prima pelo carisma. Figura mediana, cabelo curto castanho, olhos pequenos, nariz alongado – a britânica torna-se quase invisível quando se encontra junto de outros gigantes da Europa, como José Barroso, presidente da Comissão Europeia, ou Angela Merkel, chanceler alemã.
É a ela que cabe representar a União Europeia (UE) no exterior. Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa em 2009 surgiu uma tentativa de reforço da diplomacia europeia no mundo. Foi criado o cargo de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança de carácter permanente, atribuído a Ashton.
O nome é pomposo e a posição acarreta responsabilidade. A britânica é ainda vice-presidente da Comissão Europeia, mas nem por isso é mais reconhecida pelo público. Uma grande parte, senão mesmo a larga maioria, dos cidadãos europeus desconhece o seu papel. E, mesmo na esfera política, quando o foi apontada para o mais alto cargo diplomático da UE, muitos foram os que questionaram a sua capacidade, devido à sua fraca notabilidade no mundo dos Negócios Estrangeiros. Nos bastidores de Bruxelas, corria o rumor de que a posição lhe tinha sido atribuída para compensar o Reino Unido por, na mesma altura, o posto de presidente do Conselho Europeu ter calhado ao belga Herman Van Rompuy e não ao britânico Tony Blair, como tudo parecia indicar.

DE HUMILDE A BARONESA

No entanto, o currículo de Catherine Ashton não desilude. É membro do Partido Trabalhista britânico, fez parte do Conselho Privado da Rainha e assumiu cargos de responsabilidade nos departamentos da Educação e dos Assuntos Constitucionais. Conseguiu o título de Baronesa de Upholland através da Câmara dos Lordes, da qual veio a ser líder, dirigindo inclusive a posição deste grupo parlamentar nas negociações do Tratado de Lisboa. Esteve ainda à frente da pasta do comércio na Comissão Europeia.
Contudo, Catherine Ashton é oriunda de um meio humilde do norte de Inglaterra e conseguiu traçar o seu caminho ascendente através da força da vontade. Foi a primeira da família a obter um grau académico, de Sociologia, no Bedford College em Londres, em 1977.
Hoje em dia, é casada com Peter Kellner, presidente da organização YouGov. Tem dois filhos e três enteados.

NA SOMBRA DE TODOS OS OUTROS

Como Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, o trabalho de Catherine Ashton tem sido muitas vezes alvo de duras críticas. É constantemente acusada de ser uma sombra dos outros líderes europeus e ter uma posição pouco assertiva na representação da UE.
Em declarações ao diário ABC, o analista de política internacional José María de Areilza assinalava o constante fracasso da posição da Europa nas crises mundiais. Dando o exemplo da Primavera Árabe, lembrou a “crescente ineficácia da ação europeia, que assenta num poder de atração, ou soft power inútil, perante os massacres na Líbia, ou a guerra civil na Síria.” Em relação a Ashton, Areliza considera que a baronesa, atualmente, “bateu no fundo, algo que parecia difícil. E isso aconteceu porque negociou um acordo nos termos do qual a atuação das suas relações externas ficaria subordinada a autorizações burocráticas de três comissários que lhe fazem concorrência aberta no seio do executivo europeu.” De novo, Catherine Ashton a colocar-se atrás de todos os outros na UE.

Marta Velho

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