quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CHAME O PRESIDENTE DA EUROPA AO TELEFONE

Henry Kissinger (DR)
“A quem é que eu ligo se quiser falar com a Europa?” A dúvida é atribuída a Henry Kissinger, antigo Secretário de Estado norte-americano.  Atualmente, a famosa citação é ainda trazida a lume sempre que, em qualquer debate, são discutidas as bases da União Europeia (UE). Por certo, Kissinger precisou de telefonar várias vezes para o velho continente e terá encontrado diversos interlocutores. Mas e se fosse hoje? Se alguém precisasse de ligar para a Europa e só pudesse fazer uma chamada, a quem telefonaria?

VÁRIAS VOZES NUMA VOZ

Ao longo da história da UE, várias vezes foi levantada a questão da necessidade da existência de um presidente, que pudesse ser a voz de todos os cidadãos europeus. Para Shada Islam, chefe do gabinete político da organização Amigos da Europa, a ideia de concentrar numa só pessoa a representação e as decisões da Europa seria muito útil. Mas é também pouco realista. “As estruturas atuais da UE não o permitem. Temos 27 Estados-membros que até conseguem ser unidos e tomar decisões conjuntas mas que têm também os seus vários interesses nacionais a jogar uns contra os outros. Há que ser prático e, por isso, deixar os vários organismos existentes repartirem entre eles a representação e as decisões europeias.”

O SONHO DO TRATADO DE LISBOA

Herman Van Rompuy e José Barroso (DR)
O Tratado de Lisboa, que entrou em vigor no primeiro dia de 2009, foi a primeira convenção que sonhou a ideia de um chefe da Europa, explica Josef Janning, diretor de estudos do Centro de Política Europeia. “Foi criada a figura do presidente do Conselho Europeu, cargo exercido por Herman Van Rompuy com relativo sucesso até à data. Ele acaba por ser o coordenador de todos os países e tem sido bastante eficaz a resolver os diversos conflitos de interesses que vão surgindo.”
No entanto, não é óbvio que Van Rompuy ocupe o cargo mais alto da UE. Lorenzo Consoli, antigo presidente da Associação da Imprensa Internacional de Bruxelas, acredita que o presidente do Conselho Europeu se encontra lado a lado com José  Barroso, presidente da Comissão Europeia. “São os dois gigantes da Europa. Nem sempre concordam em tudo mas é bom para a democracia haver ideias diferentes. E os seus papéis também não são os mesmos. Barroso representa o ideal da União e defende os interesses comunitários, Van Rompuy acaba por ser o executor das ideias dos Estados-membros, como potências nacionais.”

A FORÇA DE MERKEL

E é inegável que há países que falam mais alto que outros. A força da vontade de estados como a Alemanha tem sido evidente ao longo dos últimos tempos. O que não quer dizer que estas nações consigam decidir sozinhas os destinos da UE. Para Peter O’Donnell, editor do semanário European Voice, tudo depende das várias épocas que a Europa atravessa. “A Alemanha sempre foi influente, mas modesta nas atitudes em relação à União. O que mudou agora foi o facto de estarmos a atravessar uma crise económica. Angela Merkel vê-se obrigada de defender os interesses do seu país, que sente estarem risco. Mas se alguém  perguntar o que quer que fosse só a ela, essa pessoa arrisca-se a ter apenas a opinião da Alemanha e não a de todos os países da UE.”

UM TELEFONEMA APENAS

E na verdade, se só se pudesse fazer um telefonema para a Europa, a chanceler alemã dificilmente estaria na primeira opção. Shada Islam e Josef Janning não hesitariam em ligar para Van Rompuy que consideram ser o conciliador das várias opiniões europeias. Lorenzo Consoli optaria por Barroso porque acredita que está na altura de o presidente da Comissão falar mais alto pelos interesses europeus. Já Peter O’Donnell ia preferir abster-se de escolher. “Eu não ligava a ninguém. Guardava o dinheiro do telefonema e ia beber uma cerveja.”


Marta Velho

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