PORQUE É QUE O EURO É CULPADO
PELA CRISE?
O Euro faz dez anos (DR) |
Parte do sonho europeu que
tanto tem sido posto em causa faz 10 anos.
Estavamos a 1 de janeiro de
2002 quando trocámos o Escudo pelo Euro, uma moeda comum entre os países da União Europeia (UE) que formam a União Económica Monetária (UEM), também conhecida por zona euro.
Este foi, possivelmente, um dos passos mais simbólicos da integração europeia.
Desde então, há quem diga que tudo ficou mais caro, outros acham que as coisas
ficaram mais faceis, mas há poucos a não emitirem opinião, especialmente face à
recente crise económica que trouxe para a luz da ribalta os prós e contras duma
moeda única.
Os primeiros diálogos sobre a
criação da UEM começaram em 1988, no Conselho Europeu. Esta ambição pedia uma
implementação faseada, por isso a concretização total chegou apenas em 2002 com
a fixação das taxas de câmbio, a criação
do Banco Central Europeu (BCE) e introdução da moeda única.
Até hoje, 17 dos 27 Estados
Membros da UE adotaram o Euro, razão pela qual há quem insista na ideia de que
existem duas Europas: a da moeda comum e a “outra”. Mesmo que os incrédulos
possam prever o fim da primera, atualmente, todos os paises aceites na UE têm
de vir a pertencer à UEM. Mas este processo não é automático e está sujeito ao respeito
de critérios de convergência (ver caixa), por isso alguns membros -
especialmente aqueles vindos das últimas fases de alargamento - estão a
implementar as mudanças necessárias para poderem começar a usar o Euro nos próximos
anos.
EURO, O MAU DA FITA
Pertencer à zona euro, significa que estes países estão sujeitos a
uma mesma política económica e monetária definida e executada pelo Banco Central Europeu (BCE), cuja
principal missão é garantir a estabilidade dos preços (mantendo a inflação sob
controlo), gerir o Euro e velar pela estabilidade do sistema financeiro. No
entanto, é precisamente esta cedência de poderes dos governos nacionais para o
BCE que tem trazido de volta alguns fantasmas do passado.
Quando a crise financeira, que
começou nos EUA em 2008, se alastrou para a Europa, trazendo à superficie a
debilidade dos sistemas bancários europeus e a incapacidade de alguns Estados
Membros pagarem a sua própria divida, as vozes mais críticas do Euro voltaram a
ganhar visibilidade. Afinal, será que países com niveis de desenvolvimento díspares
podem, efetivamente, estar afetos ao mesmo tipo de disciplina económica?
Os desafios da crise da
dívida soberana e a necessidade de prestar ajuda aos Estados mais endividados,
levaram à criação de instrumentos especiais, como o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (financiado pelos membros da zona euro) e o Mecanismo
Europeu de Estabilização Financeira (dependente de fundos angariados nos
mercados financeiros, usando como garantia o orçamento da Comissão Europeia).
Estas ferramentas provaram-se de grande ajuda para a Grécia, Irlanda e
Portugal, que não só têm em comum as dificuldades económicas mas também a
pequena dimensão. Não obstante, não restam dúvidas de que tais mecanismos não
resistirão a um eventual pedido de ajuda de Espanha ou Itália.
Face a esta situação de tensão,
muitos questionam se devemos continuar a integração e adaptar a nossa política
económica ao atual contexto, ou se devemos deixar que alguns países façam o
seu próprio percurso, renunciando à UEM, mas mantendo-se na UE.
Abandonar o Euro não será
nunca uma ação sem consequências: os mercados económicos e financeiros estão
intimamente interligados, e isso ficou ainda mais óbvio com o rápido contágio
da crise Americana ao continente Europeu. Após meses de constantes reuniões dos
líderes de Governo, não há ainda consenso final sobre nenhum acordo, mas a
proposta para que os orçamentos nacionais anuais passem a ser aprovados pela
Comissão, tem fortes possibilidades de se tornar real. No entanto, mesmo que venha a
ser aprovada, falta saber algo fundamental: será que o clube dos 17 resistirá
e, eventualmente, aumentará? Só o futuro o dirá.
Raquel Lopes
Raquel Lopes
Sem comentários:
Enviar um comentário