sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

IRÃO: PERGUNTAS E RESPOSTAS

Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irão (DR)

PORQUE É QUE O OCIDENTE PRECISA DE CONTROLAR O GIGANTE DO MÉDIO ORIENTE? 


O Irão não é um país fácil de entender, muito menos à luz duma mentalidade ocidental.
Poucos, a Oriente ou Ocidente, são aqueles que estabelecem relações amigáveis com a antiga Pérsia com base na confiança. O caso do seu programa nuclear é revelador disso mesmo. 
No final dos anos 70, uma grande revolução teve lugar no país dos Persas, que se estabeleceu como república islâmica, ou seja, um sistema baseado em leis conservadoras inspiradas no Corão e com o controle político nas mãos do clero. Dada a distância ao nosso ideal de democracia, não será de estranhar que as relações não sejam fáceis. Pior ficou após os Estados Unidos da América terem apelidado o Irão de “Eixo do Mal”. 
Mas esta nação não pode ser ignorada, quanto mais não seja por uma questão estratégica. É um importante país do Médio Oriente, geograficamente posicionado entre vizinhos como o Afeganistão, Paquistão, Iraque, Turquia ou o Golfo Pérsico, entre outros. Tem um poderio económico crescente e acesso fácil a um recurso especialmente importante para a Europa: energia! Na verdade, o Irão é o segundo maior produtor de petróleo do mundo e um em cada cinco barris de petróleo consumidos na Europa são comprados a este país. 
E é precisamente um recurso energético que tem trazido as relações Irão-Ocidente para as páginas dos jornais: energia nuclear. 


O PROBLEMA É A ENERGIA NUCLEAR OU O QUE SE FAZ COM ELA? 


O Irão é um dos 189 países do mundo assinantes do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), o qual establece que apenas as nações que explodiram a bomba atómica antes de 1967 têm direito de possuir esse tipo de armamento. Ou seja, estamos a falar dos EUA, Russia, Reino Unido, França e China. As restantes nações que assinaram o Tratado comprometem-se a não produzir tais armas, podendo desenvolver tecnologia nuclear apenas para fins pacíficos. Ainda assim, estes projetos devem ser avaliados pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Caso exista alguma suspeita sobre o fim concreto de algum projeto, a responsablidade de análise passa para o Conselho de Segurança da ONU. 
Ora, o Irão tem um programa nuclear em andamento desde 1950, com o objetivo de gerar eletricidade. Pelo menos, é isso que os lideres persas afirmam...o problema é que já poucos acreditam assim seja! 
Efetivamente, o programa tem sido alvo de muita controversia, especialmente após 2003, com o Irão a ser acusado de violar o acordo vezes sem conta devido a enriquecimento de urânio. O país foi alvo de três resoluções de sanções por parte do Conselho de Segurança da ONU. O papel da União Europeia tem sido sempre o de mediador, oferencendo alguns beneficios ao Irão em troca da suspensão de atividades, mas a cada acordo alcançado, os Persas tendem a voltar atrás, continuando e expandido a atividade, e limitando o acesso da AIEA às suas instalações. 
Um novo episódio aconteceu em novembro 2011: um relatório da AIEA revelou informações sugestivas de que o Irão estaria a proceder testes a materiais nucleares explosivos. Desde então, os lideres mundiais têm discutido a possibilidade de aplicar novas sanções. 
Na UN ainda não foi possível chegar a consenso uma vez que a China e a Russia não estão de acordo, e estes dois gigantes têm direito de veto naquele organismo. No entanto, em janeiro de 2012 os Estados Unidos aplicaram novas sanções contra o setor financeiro iraniano, provocando uma queda histórica na moeda iraniana. Também os lideres europeus acordaram num embargo ao petróleo iraniano com efeitos a partir de julho 2012, o que significa que apesar de serem proibidos novos contratos, aqueles realizados antes 1 de julho permanecem válidos.
O Irão já respondeu com um plano para banir a exportação de crude para países europeus mesmo antes do embargo entrar em vigor. 
Entretanto, esta situação gerou um substancial aumento do preço do petróleo, susceptível de afetar principalmente e em maior extensão a população iraniana, deixando por isso gropos vulneráveis em condições ainda mais precárias.  


PARAMOS O IRÃO OU ISRAEL? 


Para a UE e os EUA a urgência em assegurar que o Irão não desenvolva uma bomba nuclear passa também pela essência da relação pouco amigável dos Persas com Israel. Este último não é assinante do TNP mas existem suspeitas de que também insista no enriquecimento de urânio. Uma guerra entre entre dois países não significa apenas destabilizar ainda mais o Médio Oriente, mas também um conflito com consequências imprevisíveis já que ninguém sabe ao certo com que tipo de armamento contam estas duas nações.  
É certo que o Irão parece preparado para o pior. desde o anúncio das sanções americanas, a antiga Pérsia já testou três mísseis durante um exercício naval no estreito de Ormuz. 
É expectável que, nos próximos meses, cada passo do Irão e Israel sejam, por isso, minuciosamente monitorizados e, eventualmente, negociados. No entanto, algo parece já certo: após as últimas sanções, a diplomacia da comunidade internacional terá de recorrer às suas melhores cartas para obter um compromisso por parte do Irão.


Raquel Petra Lopes 

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